Geraldo Nascimento me emprestou o documentário Bailes, produzido pelo Quilombhoje - Literatura, cujo ao roteiro original dei minha modesta colaboração. Lembrei de Grafite, Lilian Solá Santiago; Família Alcântara, de Daniel Santiago; Carolina, de Jefferson De; Filhas do vento, Joel Zito Araújo, dentre outros. A Cooperifa criou o projeto Cinema na laje. Algumas outras emissoras, além da TV Cultura, com os programa Zoom e DocTv, têm aberto espaço para o curta e documentários: TV Brasil, TV Senado, Canal Brasil. Não vou me estender porque estou limitado a rede aberta e parabólica, e deleito de vez em quando sinal à cabo em casa de amigos. A verba anda curta para mini-parabólicas Sky, Telefonica e Directv, únicos sinais disponíveis na Cidade Tiradentes. E se não estiver enganado tem também o da Embratel, via satélite, mas ainda não conferi. Mesmo assim, por enquanto, me contento. Não saberia o que fazer com mais de uns seis ou oito canais e certamente não iria ter espaço para guardar tantos dvds gravados. Sou um tanto compulsivo, cujo lema "Melhor morrer de congestão do que por inanição" tem me feito extrapolar limites. Mesmos os digitais. Coisas desses tempos de segmentação de mercado e informação excessiva. Mas não é para fazer propaganda gratuita que estou escrevendo este artigo. E, sim, para indagar sobre o que nos impede criar a nossa Nollywood? Recordo 1978, a primeira passeata do MNU e faço um paralelo com Todos à bordo (Get On The Bus), 1996, de Spike Lee, para mim tão contundente quanto Faça A Coisa Certa (Do the Right Thing), 1989. Desde que li o artigo de Israel Punzano - El País, essa pergunta não me sai da cabeça.
Chegou a vez de “Nollywood”, o cinema feito na Nigéria
Hollywood ou Bollywood não são os únicos grandes reinos do cinema. Para completar o mapa é preciso incluir a Nigéria e sua singular produção da sétima arte: Nollywood, a terceira produtora de filmes do mercado mundial, atrás de seus concorrentes americanos e indianos.
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Em Nollywood não há tapetes vermelhos nem multidões nas estréias: os filmes são feitos com câmera digital na mão, vendidos nos mercados e consumidos em casa em formato de DVD ou VCD. (...)
“Fazemos longas-metragens que em sua maioria não estréiam nos cinemas porque nos concentramos no vídeo digital. A distribuição em salas é muito reduzida porque praticamente não existem, mas alguns filmes são exibidos em teatros”, explica o diretor e ator Fred Amata. “Na realidade os filmes de Nollywood são vistos no mundo todo, porque nosso cinema é uma ponte de união entre os nigerianos que vivem em nosso país e os que foram para o estrangeiro”, acrescenta o cineasta (...)
Quando começou esse movimento? Quando chegaram às mãos dos comerciantes os primeiros reprodutores de vídeo digital, no início dos anos 90. Como tinham muito pouca saída, começaram a vendê-los acompanhados de filmes americanos e indianos, que quase não interessavam aos espectadores. Naquele momento, a violência nas ruas nigerianas as tornava intransitáveis à noite. Apesar da gravidade da situação, o contexto era ideal para promover entretenimentos caseiros.
Em 1992 ocorreu o milagre, com um grande sucesso do diretor Chris Obi Rapu, “Living in Bondage” [Vivendo no cativeiro], a história de um homem que fica preso em uma seita ocultista. “Na realidade, a indústria de cinema nigeriana é muito antiga e já se faziam filmes nos anos 50. Mas a indústria moderna, baseada no formato digital, é recente e começou a despontar há 17 ou 18 anos. Atualmente dá trabalho direta ou indiretamente para 2 milhões de pessoas”, diz Emeruwa.
‘O custo desses filmes varia em média entre 16 mil e 20 mil euros, mas os diretores salientam que para fazer um bom filme são necessários no mínimo 50 mil. A partir de “Living in Bondage” tudo ficou mais fácil, apesar de as filmagens toparem muitas vezes com as práticas extorsionários das máfias locais. A corrupção é exatamente um dos temas recorrentes nos filmes de Nollywood, que tem suas predileções em questão de gêneros. “O que mais passamos é drama, tanto o romântico como aquele que envolve histórias familiares”, diz Bond Emeruwa. “Alguns filmes mais épicos falam do passado, enquanto a maioria se concentra em problemas contemporâneos.”
Por Israel Punzano - El País
Disponível na integra em: http://spoilermovies.com/2008/06/16/chegou-a-vez-de-nollywood-o-cinema-feito-na-nigeria/
Acesso em: 15/03/2009
Links relacionados:
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Produtoras da Nigéria incentivam venda de filmes por camelôs
http://cinema.terra.com.br/interna/0,,OI2074782-EI1176,00-Produtoras+da+Nigeria+incentivam+venda+de+filmes+por+camelos.html
Hollywood africana tem o terceiro maior faturamento do mundo
http://cinema.terra.com.br/interna/0,,OI2052066-EI1176,00-Hollywood+africana+tem+o+terceiro+maior+faturamento+do+mundo.html
Mostra de Cinema da África e da Diáspora Negra “Espelho Atlântico” http://www.irohin.org.br/onl/new.php?sec=news&id=3168
Clássicos Africanos Restaurados
http://www.cinefrance.com.br/cinemateca/colecoes/?colecao=32
Bem, diante deste banquete, creio que o estimado leitor deve estar com inquietações similares. As entidades do movimento negro, em sua maioria, ainda não acordou para a importância do registro audiovisual como também em projetos de capacitação para incentivo da lei 10.639. A nova safra de estudantes, atores, produtores, fica à mercê do que é imposto para não ficar sem trabalho ou campo de pesquisa. Os veteranos de peso, Ruth de Souza, Léa Garcia, Zózimo Bubul, Ari Cândido Fernandes, orixás assentados em terra, cujo chão por eles pisado devemos e temos obrigação de beijar permanecem desconhecidos pelas novas gerações e paparicados por morcegos. Depois, quando cantam pra subir, choramos o leite não degustado. A dica de pesquisa inicial para quem mora em São Paulo é a valiosa midiateca do Instituto Cultural Itaú, o acervo e arquivos empoeirados da USP, do Museu da Imagem e do Som. Fiquei sabendo que Negrafias 2 vem por ai. Tomara que além de literatura, dramaturgia e quadrinhos, os organizadores incluam também roteiros pra cinema. E, uma galera de responsa logicamente se disponha a produzir. Por enquanto, a matraca fica aberta.
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Oubí Inaê Kibuko - tamboresfalantes@ig.com.br